segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Voltando à ativa
Trailer, rs.
sábado, 29 de agosto de 2009
As gêmeas
"O que elas procuram não aparece." Sob essa frase da mãe moribunda desenrola-se a adaptação de Andrucha Waddington do texto de Nelson Rodrigues.
As irmãs gêmeas Marilena, bióloga, e Iara, costureira, vivem armando farsas com seus amantes, até a hora em que Iara se apaixona por Osmar. A partir desse momento, percebemos que algo mais estava em jogo quando uma se fazia passar pela outra. Essa confusão ocorre logo no início, e dá um ar de mistério à relação das duas, personificado pela figura do pai, dr. Jorge, que parece zelar pelo segredo. Temos uma insinuação quando, numa cena que não poderia ser mais direta, Iara observa no microscópio uma célula se transformar em duas e fica atônita como se tivesse feito a grande descoberta de sua vida. Por trás da disputa das gêmeas por Osmar, há uma necessidade de sobrevivência, e o equilíbrio parece só existir no triângulo amoroso. O que se faz por uma é o que se deixa de fazer pela outra, diz o dr. Jorge a Osmar.
Estão dados os elementos que permitem a elaboração de uma tragédia, e justificado o tom gótico que tentar extrair mistério de tudo. Elaboração que aposta no clima obscuro da fotografia. Baseada num conto curto de Nelson, a trama parece não ter fôlego para se tornar um longa. Algumas cenas dão a impressão de terem sido esticadas para aumentar a duração do filme, como a do enterro da mãe, durante o qual, embalados pelo famoso e já melhor utilizado adágio de Albinoni, ficamos passeando pelo cemitério e uma câmera elevada pela grua nos mostra o Corcovado, num estranho tom azulado.
Há várias referências à obra de Nelson, como os dois gatinhos dados por Osmar às irmãs ("dois gatinhos para duas gatinhas"), e o vestido de noiva de Marilena, que Iara pede para confeccionar, no que poderia ser uma necessidade simbólica de participar do casamento.
Na trama, observarmos um jogo de espelhos, em que se baseia a relação de dependência das duas irmãs. Não é à toa o recurso à confusão (quem realmente está agora com Osmar?), nem o convite de Marilena para que Iara vá morar com eles após o casamento. Resta salientar que o filme, realizado no período confusamente nomeado de "retomada" do cinema brasileiro, tenta se inserir num panorama audiovisual moderno. Daí talvez a estranheza de algumas insistências estéticas.
Alessandro Gamo
(Muito bom, tinha que ser de QUEM.. rs)
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Aí tem.
Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava frio como um iglu. Você falava, falava, e ele quieto, monossilábico. Até que você o coloca contra a parede: "O que é que está havendo?". "Nada, tô na minha, só isso." Só isso???? Aí tem.
Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava exaltado demais. Não parava de tagarelar. Um entusiasmo fora do comum. Você pergunta à queima-roupa: "Que alegria é essa?" "Ué, tô feliz, só isso". Só isso????? Aí tem.
Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido, mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à noite: aí tem. Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor maneira de nos dar uma má notícia. Se está esfuziante demais, é porque andou rolando novidades que você não está sabendo. Se ele está carinhoso demais, é porque não quer que você perceba que está com a cabeça em outra. Se manda flores, é porque está querendo que a gente facilite alguma coisa pra ele. Se vai viajar com os amigos, é porque não nos ama mais. Se parou de fumar, é uma promessa que ele não contou pra você. Enfim, o cara não pode respirar diferente que aí tem.
Às vezes não tem. O cara pode estar calado porque leu um troço que mexeu com ele, ou está falando muito porque o time dele venceu. Pode estar mais carinhoso porque conversou sobre isso na terapia e pode estar mais produzido porque teve um aumento de salário. Por que tudo o que eles fazem tem que ser um recado pra gente?
É uma generalização, mas as mulheres costumam ser mais inseguras que os homens no quesito relacionamento. Qualquer mudança de rota nos deixa em estado de alerta, qualquer outra mulher que cruze o caminho dele pode ser uma concorrente, qualquer rispidez não justificada pode ser um cartão amarelo. O que ele diz importa menos do que sua conduta. Pobres homens. Se não estão babando por nós, se tiram o dia para meditar ou para assistir um jogo de vôlei na tevê sem avisar com duas semanas de antecedência, danou-se: aí tem.
Martha Medeiros
Hm, dois e três
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
O pedriatra
Saiu do telefone e anunciou para todo o escritório:
— Topou! Topou!
Foi envolvido, cercado por três ou quatro companheiros. O Meireles cutuca:
— Batata?
Menezes abre o colarinho: — "Batatíssima!". Outro insiste:
— Vale? Justifica?
Fez um escândalo:
— Se vale? Se justifica? Ó rapaz! É a melhor mulher do Rio de Janeiro! Casada e te digo mais: séria pra chuchu!
Alguém insinuou: — "Séria e trai o marido?". Então, o Menezes improvisou um comício em defesa da bem-amada:
— Rapaz! Gosta de mim, entende? De mais a mais, escuta: o marido é uma fera! O marido é uma besta!
Ao lado, o Meireles, impressionado, rosna:
— Você dá sorte com mulher! Como você nunca vi! — E repetia, ralado de inveja: — Você tem uma estrela miserável!
O AMOR IMORTAL
Há três ou quatro semanas que o Menezes falava num novo amor imortal. Contava, para os companheiros embasbacados: — "Mulher de um pediatra, mas olha: — um colosso! ". Queriam saber: — "Topa ou não topa?". Esfregava as mãos, radiante:
— Estou dando em cima, salivando. Está indo.
Todas as manhãs, quando o Menezes pisava no escritório, os companheiros o recebiam com a pergunta: — "E a cara?". Tirando o paletó, feliz da vida, respondia:
— Está quase. Ontem, falamos no telefone quatro horas! Os colegas pasmavam para esse desperdício: - "Isso não é mais cantada, é ...E o vento levou". Meireles sustentava o princípio que nem a Ava Gardner, nem a Cleópatra justificam quatro horas de telefone. Menezes protestava:
— Essa vale! Vale, sim senhor! Perfeitamente, vale! E, além disso, nunca fez isso! É de uma fidelidade mórbida! Compreendeu? Doentia!
E ele, que tinha filhos naturais em vários bairros do Rio de Janeiro, abandonara todos os outros casos e dava plena e total exclusividade à esposa do pediatra. Abria o coração no escritório:
— Sempre tive a tara da mulher séria! Só acho graça em mulher séria!
Finalmente, após quarenta e cinco dias de telefonemas desvairados, eis que a moça capitula. Toda a firma exulta. E o Menezes, passando o lenço no suor da testa, admitia: — "Custou, puxa vida! Nunca uma mulher me resistiu tanto!". E, súbito, o Menezes bate na testa:
— É mesmo! Está faltando um detalhe! O apartamento! Agarra o Meireles pelo braço: — "Tu emprestas o teu?". O outro tem um repelão pânico:
— Você é besta, rapaz! Minha mãe mora lá! Sossega o periquito!
Mas o Menezes era teimoso. Argumenta:
— Escuta, escuta! Deixa eu falar. A moça é séria. Séria pra burro. Nunca vi tanta virtude na minha vida. E eu não posso levar para uma baiúca. Tem que ser,olha: — apartamento residencial e familiar. É um favor de mãe pra filho caçula.
O outro reagia: — "E minha mãe? Mora lá, rapaz!". Durante umas duas horas, pediu por tudo:
— Só essa vez. Faz o seguinte: — manda a tua mãe dar uma volta. Eu passo lá duas horas no máximo!
Tanto insistiu que, finalmente, o amigo bufa:
— Vá lá! Mas escuta: — pela primeira e última vez! Aperta a mão do companheiro:
— És uma mãe!
DECISÃO
Pouco depois, Menezes ligava para o ser amado: — Arranjei um apartamento genial.
Do outro lado, aflita, ela queria saber tudinho: "Mas é como, hein?". Febril de desejo, deu todas as explicações: — "Um edifício residencial, na rua Voluntários. Inclusive, mora lá a mãe de um amigo. Do apartamento, ouve-se a algazarra das crianças". Ela, que se chamava Ieda, suspira:
— Tenho medo! Tenho medo!
Ficou tudo combinado para o dia seguinte, às quatro da tarde. No escritório, perguntaram:
— E o pediatra?
Menezes chegou a tomar um susto. De tanto desejar a mulher, esquecera completamente o marido. E havia qualquer coisa de pungente, de tocante, na especialidade do traído, do enganado. Fosse médico de nariz e garganta, ou simplesmente de clínica geral, ou tisiólogo, vá lá. Mas pediatra! O próprio Menezes pensava: — "Enquanto o desgraçado trata de criancinhas, é passado pra trás!". E, por um momento, ele teve remorso de fazer aquele papel com um pediatra. Na manhã seguinte, com a conivência de todo o escritório, não foi ao trabalho. Os colegas fizeram apenas uma exigência: — que ele contasse tudo, todas as reações da moça. Ele queria se concentrar para a tarde de amor. Tomou, como diria mais tarde, textualmente, "um banho de Cleópatra". A mãe, que era uma santa, emprestou-lhe o perfume. Cerca do meio-dia, já pronto e de branco, cheiroso como um bebê, liga para o Meireles:
— Como é? Combinaste tudo com a velha?
— Combinei. Mamãe vai passar a tarde em Realengo. Menezes trata de almoçar. "Preciso me alimentar bem", era o que pensava. Comeu e reforçou o almoço com uma gemada. Antes de sair de casa, ligou para Ieda:
— Meu amor, escuta. Vou pra lá. E ela:
— Já?
Explica:
— Tenho que chegar primeiro. E olha: vou deixar a porta apenas encostada. Você chega e empurra. Não precisa bater. Basta empurrar.
Geme: — "Estou nervosíssima!".
E ele, com o coração aos pinotes:
— Um beijo bem molhado nesta boquinha.
— Pra ti também.
ESPANTO
Às três e meia, ele estava no apartamento, fumando um cigarro atrás do outro. Às quatro, estava junto à porta, esperando. Ieda só apareceu às quatro e meia. Ela põe a bolsa em cima da mesa e vai explicando:
— Demorei porque meu marido se atrasou.
Menezes não entende: — "Teu marido?", e ela:
— Ele veio me trazer e se atrasou. Meu filho, vamos que eu não posso ficar mais de meia hora. Meu marido está lá embaixo, esperando.
Assombrado, puxa a pequena: — "Escuta aqui. Teu marido? Que negócio é esse? Está lá embaixo! Diz pra mim: — teu marido sabe?". Ela começou:
— Desabotoa aqui nas costas. Meu marido sabe, sim. Desabotoa. Sabe, claro.
Desatinado, apertava a cabeça entre as mãos: — "Não é possível! Não pode ser! Ou é piada tua?". Já impaciente, Ieda teve de levá-lo até a janela. Ele olha e vê, embaixo, obeso e careca, o pediatra. Desesperado, Menezes gagueja: — "Quer dizer que...". E, continua: "Olha aqui. Acho melhor a gente desistir. Melhor, entende? Não convém. Assim não quero".
Então, aquela moça bonita, de seio farto, estende a mão:
— Dois mil cruzeiros. É quanto cobra o meu marido. Meu marido é quem trata dos preços. Dois mil cruzeiros.
Menezes desatou a chorar.
Nelson Rodrigues
terça-feira, 25 de agosto de 2009
SEJA UM IDIOTA!
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele. Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo,soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça? Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema? É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí,o que elas farão se já não têm por que se desesperar? Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa. Dura, densa, e bem ruim. Brincar é legal. Entendeu? Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço,não tomar chuva.
Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável. Teste a teoria. Uma semaninha, para começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir. Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração! Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora? A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Sofrer por antecipação
domingo, 23 de agosto de 2009
Swing Kids
sábado, 22 de agosto de 2009
O contrário do amor
"O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.
O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.
Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.
Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.
Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto."
Martha Medeiros
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
A razão do meu afeto
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Enem, terceirão, revisão; vida.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Comer é o melhor para poder crescer, rs.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Curta e grossa, rs.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
De volta à realidade
domingo, 16 de agosto de 2009
Viva volta às aulas
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Ruffles sensações, rs.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Cabeça de vento
Pirataria é crime
sábado, 8 de agosto de 2009
Lista do All star
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Meu melhor pai
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
A primeira vez de uma mulher
Se não era com a empregada, era com uma prima mais velha ou com uma amiga da irmã recém-chegada da Suécia. Até hoje, a primeira vez de um garoto se dá mais ou menos assim, com quem se habilitar e rapidinho, porque há pressa em entrar para o mundo dos homens. O pai pressiona, os amigos pressionam, não há tempo a perder com flores e bombons.
Antes de a mulher conquistar os mesmos direitos, ninguém questionava o modo como se dava a iniciação sexual de um adolescente. Garotas, era na lua-de-mel. Rapazes, quanto mais cedo, melhor. Mas esses garotos que tiveram tanta pressa em se desfazer da virgindade hoje são pais de meninas que - supresa! - também não estão querendo esperar pelo grande amor para entrar na vida adulta. Afinal, as meninas também devem iniciar-se sexualmente movidas pela curiosidade, pela indução das amigas, para terem uma história para contar?
Curto e grosso: não. Muitos hábitos que pertenciam apenas ao mundo masculino foram bem-vindos entre as mulheres, como o direito a voto, a entrada no mercado de trabalho, o direito de sair à noite com as amigas para tomar um chope e de ter vida sexual antes de subir ao altar. Em troca, endurecemos, pero perder la ternura, jamás. A primeira noite de uma mulher pode nem ser de noite. Pode ser à tarde, ou pela manhã, mas será um desperdício se não houver uma razão mais forte do que a simples vontadade de ver qual é.
Caretice minha, pode ser. Às vezes cansa ser moderna o tempo todo. Intimidade, por exemplo, é uma coisa que não muda através de gerações, não entra nem sai de moda, não é para consumo de massa. Por mais madura que uma adolescente seja, pouco vai adiantar ter viajado à Disney sozinha ou colecionar todos os números da Capricho quando, pela primeira vez, tirar a roupa na frente de um homem. Não é tarefa fácil nem para balzaquianas calejadas, o que dirá para uma garota cheia de fantasias na cabeça. É um momento único, que se repetirá milhares de vezes mas nunca dessa forma inédita, com direito a tremor de pernas, espanto e excitação. Pode ser uma estréia, a mais aguardada delas, merece ser compartilhada com alguém que sinta pela menina muito mais do que desejo, alguém que tenha capacidade de receber não só o seu corpo, mas também sua inibição, seus suspiros, sua ansiedade. Alguém que saiba que existem coisas mais importantes na vida do que participar de um pega e ouvir Raimundos. Alguém que veja o sexo como uma consequência de uma relação bonita, estável, apaixonada, e não como um fogo a ser apagado dentro do carro mesmo, de qualquer jeito, seja com quem for.
Romantismo para as mulheres, sacanagem para os homens, então ainda é assim? Não, crianças. Romantismo para homens e mulheres, sacanagem para homens e mulheres, tudo à sua hora. Também acho que não deve ser legal para os garotos transar por transar, só para satisfazer o pai e ter uma história para contar para os amigos, história essa muito mais inventada do que vivida. Ideal seria que sexo e emoção andassem de mãos dadas, pelo menos no início da puberdade, quando tu é descoberta. Depois cada um escolhe o seu jeito de ser e viver, de acordo com o que aprendeu, sofreu, vivenciou. Mas, ao dar os primeiros passos, é recomendável proteger-se das decepções, não deixar o encanto quebrar tão rápido. Aos 16, aos 20, aos 25, que seja linda a primeira vez, com alguém que saiba ao menos seu nome completo. Agora, depois dos 25, seguindo invicta, esqueça tudo o que foi dito aqui. O cara diz ôi, você diz topo. Você é romântica mas não é louca."
Martha Medeiros