quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A primeira vez de uma mulher

"A primeira relação de um rapaz costumava dar-se em casas de tolerância, também conhecidas como prostíbulos, inferninhos, casas de massagem, antros da perdição.
Se a iniciação não se dava com prostitutas, se dava com a empregada da casa, num relação meio feudal, onde o patrãozinho tomava certas liberdades enquando que à Maria restava o direito de ficar calada.
Se não era com a empregada, era com uma prima mais velha ou com uma amiga da irmã recém-chegada da Suécia. Até hoje, a primeira vez de um garoto se dá mais ou menos assim, com quem se habilitar e rapidinho, porque há pressa em entrar para o mundo dos homens. O pai pressiona, os amigos pressionam, não há tempo a perder com flores e bombons.
Antes de a mulher conquistar os mesmos direitos, ninguém questionava o modo como se dava a iniciação sexual de um adolescente. Garotas, era na lua-de-mel. Rapazes, quanto mais cedo, melhor. Mas esses garotos que tiveram tanta pressa em se desfazer da virgindade hoje são pais de meninas que - supresa! - também não estão querendo esperar pelo grande amor para entrar na vida adulta. Afinal, as meninas também devem iniciar-se sexualmente movidas pela curiosidade, pela indução das amigas, para terem uma história para contar?
Curto e grosso: não. Muitos hábitos que pertenciam apenas ao mundo masculino foram bem-vindos entre as mulheres, como o direito a voto, a entrada no mercado de trabalho, o direito de sair à noite com as amigas para tomar um chope e de ter vida sexual antes de subir ao altar. Em troca, endurecemos, pero perder la ternura, jamás. A primeira noite de uma mulher pode nem ser de noite. Pode ser à tarde, ou pela manhã, mas será um desperdício se não houver uma razão mais forte do que a simples vontadade de ver qual é.
Caretice minha, pode ser. Às vezes cansa ser moderna o tempo todo. Intimidade, por exemplo, é uma coisa que não muda através de gerações, não entra nem sai de moda, não é para consumo de massa. Por mais madura que uma adolescente seja, pouco vai adiantar ter viajado à Disney sozinha ou colecionar todos os números da Capricho quando, pela primeira vez, tirar a roupa na frente de um homem. Não é tarefa fácil nem para balzaquianas calejadas, o que dirá para uma garota cheia de fantasias na cabeça. É um momento único, que se repetirá milhares de vezes mas nunca dessa forma inédita, com direito a tremor de pernas, espanto e excitação. Pode ser uma estréia, a mais aguardada delas, merece ser compartilhada com alguém que sinta pela menina muito mais do que desejo, alguém que tenha capacidade de receber não só o seu corpo, mas também sua inibição, seus suspiros, sua ansiedade. Alguém que saiba que existem coisas mais importantes na vida do que participar de um pega e ouvir Raimundos. Alguém que veja o sexo como uma consequência de uma relação bonita, estável, apaixonada, e não como um fogo a ser apagado dentro do carro mesmo, de qualquer jeito, seja com quem for.
Romantismo para as mulheres, sacanagem para os homens, então ainda é assim? Não, crianças. Romantismo para homens e mulheres, sacanagem para homens e mulheres, tudo à sua hora. Também acho que não deve ser legal para os garotos transar por transar, só para satisfazer o pai e ter uma história para contar para os amigos, história essa muito mais inventada do que vivida. Ideal seria que sexo e emoção andassem de mãos dadas, pelo menos no início da puberdade, quando tu é descoberta. Depois cada um escolhe o seu jeito de ser e viver, de acordo com o que aprendeu, sofreu, vivenciou. Mas, ao dar os primeiros passos, é recomendável proteger-se das decepções, não deixar o encanto quebrar tão rápido. Aos 16, aos 20, aos 25, que seja linda a primeira vez, com alguém que saiba ao menos seu nome completo. Agora, depois dos 25, seguindo invicta, esqueça tudo o que foi dito aqui. O cara diz ôi, você diz topo. Você é romântica mas não é louca."

Martha Medeiros

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